Banco Central muda estratégia de comunicação

Autoridade monetária vai antecipar em dois dias divulgação da ata do Copom

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Após anos na mira dos críticos, toda a comunicação do Banco Central (BC) está prestes a mudar. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, a autarquia prepara, com urgência, uma reforma nos instrumentos para falar mais claramente com o mercado financeiro e com a sociedade. Essa é uma diretriz do novo presidente do BC, Ilan Goldfajn. A orientação é abolir termos que deixam espaço para duplo sentido e demonstrar exatamente qual a leitura que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem do cenário econômico. A avaliação é que a falta de comunicação da gestão anterior causou diversos problemas.

— Tem muita coisa ainda na lista para mudar. O plano é rever toda a comunicação — revelou ao GLOBO um técnico da equipe econômica, sob a condição de anonimato.

O primeiro passo da guinada foi alterar a data de divulgação da ata do Copom, que foi antecipada da quinta-feira seguinte à reunião do comitê para a terça-feira. Novas mudanças devem ser percebidas na publicação do próximo documento, que sairá na semana que vem — a reunião começa hoje e termina amanhã.

TÉCNICOS NÃO SABIAM DA MUDANÇA

Grande parte do texto da ata será revisado. Pistas do que será feito estão num trabalho de um dos novos diretores do BC. Carlos Viana de Carvalho, agora à frente da área de Política Econômica, tem um trabalho na PUC-Rio sobre o assunto. O texto “Apenas palavras: uma análise quantitativa da comunicação do Banco Central do Brasil” conclui que os problemas de comunicação na gestão de Alexandre Tombini, presidente do BC nos dois governos Dilma Rousseff, tiveram um custo econômico para o país.

“Mais importante ainda: nossos resultados sugerem que a curva de juros parou de responder às mudanças na linguagem do Copom durante a presidência de Tombini. Mudanças inesperadas na linguagem sob a vontade de Tombini continuariam a moldar a curva de juros como de costume, mas surpresas de comunicação ocorreram”, afirma o texto, de autoria de Carvalho, Fernando Cordeiro e Juliana Vargas.

E conclui: “Desnecessário dizer que possivelmente tenham ocorrido surpresas na comunicação durante a presidência de Tombini, mas, por alguma razão, os juros não tenham respondido de forma sistemática. Pode ser que isso tenha se devido à comunicação deficiente e à falta de credibilidade.”

— A intenção é excelente, passa por muita coisa que o corpo técnico já falava em gestões anteriores sobre a comunicação — afirmou um técnico.

A alteração da divulgação da data da ata do Copom pegou os técnicos totalmente de surpresa: eles ficaram sabendo juntamente com a imprensa.
Fonte: O globo