Como Trump e o Brexit ajudaram a cunhar a 'palavra do ano' escolhida pelo dicionário Oxford

O termo ganhou popularidade nas campanhas do plebiscito do Brexit e da eleição americana, ambas marcadas pela disseminação de notícias falsas nas mídias sociais e de mentiras por candidatos ou figuras-chave de campanha

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O Dicionário Oxford (Oxford Dictionaries) escolheu post-truth, “pós-verdade”, como palavra internacional do ano de 2016, refletindo o que chamou de 12 meses “politicamente altamente inflamados”.

A palavra é definida pelo dicionário como um adjetivo “relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que apelos à emoção e à crença pessoal”.

Casper Grathwohl, da Oxford Dictionaries, disse que “pós-verdade” poderia se tornar “uma das palavras que definem nosso tempo”.

O termo ganhou popularidade nas campanhas do plebiscito do Brexit e da eleição americana, ambas marcadas pela disseminação de notícias falsas nas mídias sociais e de mentiras por candidatos ou figuras-chave de campanha.

Em setembro, o termo ganhou proeminência com uma matéria de capa da revista britânica The Economist intitulada “Arte das Mentiras: Política pós-verdade na era das mídias sociais”.

O artigo citava como exemplo de “política pós-verdade” a informação disseminada na campanha pelo Brexit de que a permanência da Grã-Bretanha na União Europa “custava 350 milhões de libras por semana aos cofres públicos” e que o dinheiro – após a eventual saída do bloco – seria destinado ao serviço público de saúde.

Para a revista, o candidato (e depois presidente eleito dos EUA) Donald Trump seria “o expoente máximo da política pós-verdade”, graças a afirmações como as de que o certificado de nascimento de Barack Obama seria falso, ou de que o pai de seu rival republicano Ted Cruz teria estado com Lee Harvey Oswald antes do assassinato de John Kennedy, replicando uma história não comprovada publicada por um tabloide americano.

“Pós-verdade” foi escolhida a partir de uma lista selecionada para refletir as principais tendências e eventos sociais, culturais, políticos, econômicos e tecnológicos de 2016.

O termo acabou desbancando outras palavras que também estiveram ligadas às campanhas mencionadas, como “brexiteer”, derivada da junção das palavras inglesas para “Britain” (Grã-Bretanha) e “exit” (saída) e que era usada para chamar as pessoas que defendiam ou faziam campanha pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia, e “alt-right”, usada para descrever o grupo nos EUA que se autodenomina “direita alternativa” – que apoiou Donald Trump e é acusado de racismo e antissemitismo.

Casper Grathwohl, da Oxford Dictionaries, disse que a "pós-verdade" poderia se tornar "uma das palavras que definem nosso tempo"
Casper Grathwohl, da Oxford Dictionaries, disse que a “pós-verdade” poderia se tornar “uma das palavras que definem nosso tempo”

Mídias sociais

De acordo com a Oxford Dictionaries, “pós-verdade” foi usada pela primeira vez em 1992. No entanto, a freqüência de seu uso aumentou em cerca de 2000% em 2016 em comparação com o ano passado.

Segundo Gratwohl, “pós-verdade” vem há algum tempo encontrando sua sustentação linguística “graças à ascensão das mídias sociais como fonte de notícias e uma crescente desconfiança dos fatos oferecidos pelo establishment”.

“Nós vimos, pela primeira vez, o uso atingir um pico este ano em junho com o barulho do voto pelo Brexit e, em seguida, em julho, quando Donald Trump assegurou sua indicação para disputar as eleições pelo partido Republicano”, observou Grathwohl.

Ele completa: “Dado que o uso do termo não mostrou qualquer sinal de abrandamento, eu não ficaria surpreso se pós-verdade se tornar uma das palavras que definem o nosso tempo.”

A “palavra do ano” em 2015 foi, pela primeira vez, um pictograma, o emoji da “carinha com a lágrima de alegria”. No ano anterior, foi a palavra “vape”, como é conhecido o ato de fumar um cigarro eletrônico.

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O britânico Nigel Farage, um dos proponentes da campanha para deixar o União Europeia, compartilha retórica parecida com a usada por Trump nos EUA

As palavras finalistas de 2016

• Adulting – Prática de se comportar como adulto responsável, especialmente para executar tarefas mundanas, mas necessárias.

• Alt-right – usada para descrever um grupo nos EUA que se autodenomina “direita alternativa”, que apoiou Donald Trump e é acusado de racismo e antissemitismo.

• Brexiteer – que foi a favor ou fez campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia.

• Chatbot – programa de computador projetado para simular conversas com usuários humanos, especialmente através da internet.

• Coulrofobia – medo extremo de palhaços.

• Glass cliff (penhasco de vidro) – termo usado como referência a uma situação em que uma mulher ou membro de um grupo minoritário ascende a uma posição de liderança em circunstâncias desafiadoras onde o risco de fracasso é alto.

• Hygge – uma qualidade ligada a uma atmosfera aconchegante e um convívio agradável ligada a uma sensação de bem-estar típica da cultura dinamarquesa

• Latinx – pessoa de origem ou ascendência latino-americana; usada como alternativa não-binária de gênero para se referir, ao mesmo tempo, a latinos e latinas.

• Woke (Desperta) – Usada originalmente por afro-americanos para se referir a ficar alerta para injustiças sociais, especialmente racismo.

Fonte: BBC